terça-feira, 6 de abril de 2010

Atrás de um Futuro

Matéria de Capa do Segundo Caderno – 31/03/2010.

Executivos, produtores e compositores procuram novos caminhos para a música. Por: Antonio Carlos Miguel.

O relatório divulgado pela Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD), publicado recentemente, aponta para um crescimento da venda digital de música, porém esse aumento ainda é pequeno para compensar a perda no comércio de discos físicos, que registrou queda de 80% no mercado fonográfico brasileiro entre 2004 e 2008, segundo dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), divulgados em janeiro de 2010.

Se a indústria enfrenta problemas, a criação não para. Com o barateamento dos custos de gravação, canções são produzidas a toda hora e distribuídas quase que instantaneamente na internet. A grande questão é como chegar ao público em meio às milhares de opções na rede? Quatro diferentes executivos e produtores brasileiros com passagens pela indústria tentam encontrar respostas à frente de sés negócios.

João Marcello Bôscoli

João Marcello Bôscoli insiste com a gravadora Trama, que criou há uma década e passou a distribuir música de graça na Trama Virtual. – Lançamos o lema “De graça pra você e remunerado para o artista” isso só é possível graças a patrocinadores o que permite que paguemos os direitos aos artistas que tiverem as músicas baixadas. Bôscoli, que não acredita na sobrevivência de suportes físicos, como o CD e o DVD, manterá a produção. – Ainda lançaremos 12 CDs e 12 DVDs em 2010, em 2009 eles corresponderam apenas a 12% da nossa receita.

Luis Calainho

O executivo Luis Calainho, que entrou na gravadora Sony no final dos anos 90, preferiu investir em outras empresas de entretenimento, hoje ele é sócio de sete empresas incluindo a rádio Sulamérica Paradiso e o Projeto Oi Noites Cariocas. – No fim da década de 90, quando a música na internet começou a crescer, a indústria não soube ler os sinais e foi contra esse fenômeno, na época fui voto vencido na gravadora. Agora ele acredita ser impossível recuperar os jovens consumidores que não criaram o hábito de freqüentar lojas de discos, já que historicamente, o consumidor jovem é o motor da indústria musical. Calainho está se preparando para lançar o selo Musiqueria - Estamos repensando o negócio, no selo artistas, fábrica, estúdio, um grupo de mídia e a empresa que distribui o disco serão sócios na operação. Isso já acontece, muitos artistas têm bancado a produção de seus discos e depois negociado a distribuição e o marketing com as gravadoras. A diferença, é que as gravadoras continuam com o modelo antigo argumenta Calainho, não considerando novas ferramentas de marketing como as redes sociais, por exemplo.

Ronaldo Bastos

Ronaldo Bastos, compositor, produtor e um dos sócios da Dubas Música, fundada há 15 anos, diz que atualmente a editora musical fatura mais que a gravadora, mas não desiste de produzir discos, vendidos em lojas ou na internet. (...) enquanto seu trabalho de reedições e coletâneas virou padrão no gênero, copiado por muitas gravadoras. – A Dubas já nasceu editora e tem uma experiência exemplar na administração e promoção de obras musicais. A partir de 2008, passamos a administrar o catálogo da 3Pontas, o que tornou a operação mais forte e constante. Bastos investe em edição desde 1970, quando criou a 3Pontas. – Por mais que a indústria fonográfica tenha feito escolhas erradas, seu papel continua importante, ela é necessária para a criação, compositores e artistas precisam desenvolver sua música e ser pagos por isso. Porque pagamos o bilhete do metrô, a água mineral e não vamos pagar a música que consumimos? Bastos também critica a postura do Estado, que considera equivocada. – A tarefa do Estado é desenvolver a cultura, e não financiar diretamente os artistas, porque isso cria um critério de favorecimento.

Felipe Llerena

Há dez anos, a empresa iMusica insiste na venda digital, tentando implantar no Brasil o bem sucedido modelo do iTunes, mas Felipe Llerena, diretor da iMusica admite que pouco se avançou nesse campo. Apesar de ter criado uma plataforma eficiente e assinado contrato com as principais gravadoras, o volume de vendas na internet ainda é pequeno. Por outro lado, não para de crescer no segmento dos celulares. – Atingimos um consumidor de perfil mais popular que cada vez mais vêm utilizando o celular como tocador de música. Já na internet ainda estamos atrás de um modelo rentável. A internet continua sendo o novo canal, não param de surgir novas ferramentas de sucesso, mas que ainda não pagam a conta. Outra questão é que hoje a oferta de música é maior que a demanda, como os novos artistas vão chegar ao público? Não encontramos um formato que se adapte a nova realidade, os contratos entre as gravadoras, artistas, compositores e produtores estão defasados. Mesmo ainda tateando por novos caminhos, há um consenso: Precisamos mudar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário